Há poucos anos, em um passado nada distante, era comum nos espantarmos com a destreza com a qual crianças lidavam com tecnologias, principalmente com os smartphones. Atualmente isso é tão comum que não há espanto ao ver um pequeno acessando vídeos nos aparelhos de seus pais, por exemplo.
Essa mudança traz muito além do que um comportamento que se altera conforme as evoluções de nossa sociedade. Principalmente quando falamos de tela, o tempo dedicado a elas pode trazer efeitos negativos, como a miopia infantil, por isso o excesso de uso deve ser um ponto de alerta para os pais e responsáveis por crianças.
Nas linhas que seguem falaremos mais sobre isso, os limites de uso recomendados e algumas dicas para lidar com a relação entre crianças e telas.
Crianças, o uso de smartphones e tablets e suas consequências
De acordo com a pesquisa “Crianças Digitais”, realizada pela Kaspersky em parceria
com a CORP em 2020, 73% das crianças no Brasil recebem seu primeiro smartphone ou tablet antes dos 10 anos. Surpreendentemente, 49% delas começam a utilizá-los antes dos 6 anos. E, na ocasião da pesquisa, 18% das crianças no Brasil passavam mais de 4 horas diárias conectadas à internet.
Esses números destacam a presença significativa da tecnologia na vida das crianças e a elevada quantidade de tempo que ela ocupa. Considerando nosso contexto atual e os acontecimentos dos últimos anos (pandemia), essa frequência de uso pode ter aumentado desde então.
Além dos riscos que o uso da internet pode apresentar para a segurança dos pequenos, se feito sem a supervisão adequada, há os danos à saúde física e emocional. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará publicada em 2021 mostrou que cada hora adicional de tempo de tela associa-se a menores níveis nos domínios de comunicação infantil, de resolução de problemas pessoais-sociais e do desenvolvimento. O estudo é realizado anualmente com 3.000 crianças desde 1987.
A saúde física também pode ser comprometida. Um levantamento recente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) alerta para o avanço dos casos de miopia infantil e nos adolescentes – a taxa de progressão desse distúrbio visual cresceu em 70% dos pacientes de 0 a 19 anos a partir de 2020. E para 75% dos oftalmologistas consultados, a causa principal é a exposição aumentada dos jovens às telas de equipamentos eletrônicos.
Há, ainda, várias outras possíveis consequências para a saúde e o bem-estar, incluindo transtornos mentais (como ansiedade e depressão) e de sono e alimentação, irritabilidade, queda no rendimento escolar, e dificuldade nas relações sociais pessoais, levando ao isolamento.
Tempo de tela recomendado por idade:
Lidar com os anseios das crianças pela diversão com as telas não é tarefa fácil e limitá-los totalmente também pode não ser o melhor caminho para muitas famílias, mas não há dúvidas que o controle é fundamental.
Para melhor compreender os impactos do uso de telas e apoiar os pais e responsáveis nesse assunto, várias entidades médicas conduziram estudos e forneceram recomendações. Confira abaixo as principais diretrizes e recomendações.
AAP (Academia Americana de Pediatria):
- Menores de 18 meses: evitar o uso de telas, com exceção de videochamadas para fortalecer laços afetivos.
- De 18 a 24 meses: usar mídia por períodos curtos, com programas de alta qualidade, e assistir com a criança para ajudá-la a compreender o que está sendo exibido.
- De 2 a 5 anos: limite de 1 hora por dia, com acompanhamento dos pais para focar em programas de alta qualidade.
- A partir dos 6 anos: não há uma limitação rígida de tempo, mas os pais devem estabelecer limites consistentes, considerando outras atividades da criança e garantindo o sono adequado.
SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria):
- Crianças menores de 2 anos: evitar a exposição a telas, mesmo que de forma passiva.
- Entre 2 e 5 anos: limitar a uma hora por dia, com supervisão de um adulto.
- Entre 6 e 10 anos: limitar o tempo de tela a uma ou duas horas por dia, com supervisão.
- Entre 11 e 18 anos: manter a exposição às telas entre 2 e 3 horas por dia, com supervisão, evitando atividades noturnas em detrimento do sono.
OMS (Organização Mundial de Saúde):
- Até 1 ano: não é recomendado contato com telas.
- 1 ano: evitar tempo sedentário nas telas, priorizando programas educacionais ou que estimulem atividades.
- 2 anos: limite de até uma hora, mas sempre minimizando o tempo.
- 3 a 4 anos: o tempo sedentário não deve ultrapassar uma hora.
É importante lembrar que todas as entidades enfatizam que o tempo de tela deve ser
encerrado aproximadamente duas horas antes de dormir, e que não devem ser
usadas durante as refeições e outras atividades.
5 dicas para proteger as crianças durante o uso
Elencamos algumas dicas para ajudar na gestão da relação entre crianças, telas e tecnologias:
- Siga as recomendações das entidades de saúde em casos de exposição às telas, com tempo definido conforme a idade.
- Não permita que os pequenos acessem conteúdo sem acompanhamento, isso ajuda a evitar materiais impróprios e faz com que o tempo na tela gere aprendizado e interação com os pais ou responsáveis. Ainda, use tecnologias de controle parental para limitar e monitorar os conteúdos acessados.
- Estimule a realização de outras atividades, como brincadeiras ao ar livre e educativas, para que a criança reconheça que há inúmeras alternativas para diversão.
- Seja exemplo: também controle seu tempo de uso de telas e aproveite o tempo com as crianças para atividades diferentes.
- Mantenha um acompanhamento médico constante e atenção a qualquer sinal de alteração de comportamento ou saúde. O teste do olhinho, por exemplo, identifica muitas doenças, como retinoblastoma.
Independentemente da idade da criança, tenha sempre em mente que o controle sobre o tempo de tela é fundamental para seu desenvolvimento saudável. É importante estabelecer limites e incentivar outras atividades saudáveis para equilibrar o uso da tecnologia. Afinal, a tecnologia pode ser uma ferramenta valiosa quando usada de forma consciente e moderada, sendo cada vez mais presente no dia a dia dos pequenos conforme crescem e se desenvolvem.